Fabricantes de aeronaves estão de olho no mercado latino, cientes da demanda aquecida e do caráter promissor do setor aéreo na região
Aeroportos lotados, atrasos, congestionamentos no ar. Todo esse cenário de transtornos aos usuários da malha aérea brasileira, tanto para os viajantes quanto para o transporte de cargas, tem atraído a atenção das maiores produtoras de aviões do mundo. A estimativa é de que a região represente um importante nicho de crescimento das vendas nos próximos 20 anos. Esse cenário é um reflexo do crescimento acelerado que o setor de aviação tem apresentado na América Latina, liderado principalmente pelo Brasil.
De acordo com os últimos dados da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), divulgados na última quinta-feira, a demanda por voos no mercado aéreo doméstico cresceu 31,45% em abril na comparação com o mesmo mês do ano passado. Em relação à oferta, o aumento foi de 15,44%. Com isso, a taxa de ocupação chegou a 73,37%, contra 64,43% em abril de 2010. A demanda por voos internacionais operados por empresas brasileiras cresceu 34,88% em relação a abril do ano passado. No mesmo período, a oferta de assentos aumentou 18,59% e a taxa de ocupação atingiu a marca de 81,13%.
Considerando o desempenho dos quatro primeiros meses do ano, a procura por voos no mercado aéreo doméstico cresceu 20,22% em relação ao primeiro quadrimestre do ano passado. Já nos voos internacionais operados por empresas brasileiras, a demanda aumentou 21,28% em relação ao ano passado.
A fabricante norte-americana Boeing é a mais otimista entre as líderes globais. A companhia estima que o mercado latinoamericano de aeronaves alcance 2.180 unidades nos próximos 20 anos. Um negócio que promete alcançar US$ 210 bilhões nesse período. Segundo a expectativa da empresa, esse desempenho é liderado pela expansão econômica pela qual o Brasil está passando. E é justamente o País que elevará a demanda por aeronaves em 6,9% ao ano até 2031.
“A maior parte do crescimento na América Latina está centrada no Brasil, que é o maior mercado de aviação da região”, disse o vice-presidente de Marketing da divisão de aviação comercial da Boeing, Randy Tinseth. De acordo com ele, com o crescimento da economia brasileira, as pessoas estão tendo mais acesso a viagens por meio de aviões, tanto para vôos domésticos quanto internacionais, além de haver uma maior demanda de carga também, que cresce em paralelo à expansão da economia.
Com isso, a Boeing estima que apenas em cargueiros, a demanda local cresça a um índice semelhante ao de passageiros, 6,4% no mesmo período. Se essa previsão se confirmar, a expectativa da empresa é de vender 75 aeronaves exclusivas para cargas como o 767-300F e o 777F.
Apesar de otimista a empresa utiliza-se dos dados da última década no Brasil. “No País, o número de novas aeronaves cresceu 50% na última década e não há sinais de que esse ritmo irá se reduzir nos próximos 20 anos devido a essa expansão econômica que tem elevado o número de pessoas que estão entrando na classe média e tendo mais acesso a viagens aéreas”, afirmou o executivo, que acredita que em termos gerais a América do Sul tem demanda para a família 737 Next-Generation, para o 777, o novo 787 Dreamliner e até mesmo para o 747-8 Intercontinental.
Porém, a Boeing não encontrará um céu de brigadeiro na região quanto à concorrência pelo mercado da região, principalmente na categoria single aisle (corredor único) com aeronaves que comportam até 150 passageiros. Nessa categoria, a norte-americana tem que enfrentar sua maior rival, a franco-italiana Airbus, e a brasileira Embraer.
A companhia localizada em São José dos Campos, que é a terceira maior fabricante mundial de aeronaves, projeta que o tráfego aéreo mundial cresça, em média, a 4,9% ao ano até 2029. Porém, o tráfego aéreo na América Latina, Ásia Pacífico e Rússia & CEI (Comunidade dos Estados Independentes) deve crescer 6% ao ano, pouco menos de 1% em relação à China, que deve registrar a maior expansão de um país nesse segmento da economia. Com isso, a perspectiva é de que os mercados maduros, localizados na América do Norte e Europa, reduzam sua participação mundial nos resultados dessas empresas, apesar de ainda estarem em um patamar de pelo menos o dobro dos emergentes.
Com isso, a Embraer estima que a demanda global por aeronaves entre 60 e 120 assentos, cujos produtos oferecidos ao mercado são os E-Jets (170, 175, 190 e 195), devem somar 6.400 aviões. Na América Latina, a participação de vendas ficará no mesmo patamar das outras duas gigantes da aviação, com cerca de 8% desse número, com 575 encomendas. O total projetado pela Embraer é de uma demanda mundial de 29.135 aeronaves no total.
Esse número é similar ao que a concorrente europeia Airbus estimou para o mundo, 25.800 aeronaves, sendo que 7% desse volume deverá ficar na América Latina. Apesar de estimar uma participação minoritária para a região ante o mercado global percentualmente, esse crescimento é muito importante em decorrência dos mesmos motivos pelos quais a Boeing acredita na expansão da demanda nesta região. A expectativa da Airbus é de uma demanda um pouco menor que a sua concorrente norte-americana, cerca de 1.800 unidades dos diversos modelos que produz, até 2029. Incluindo neste número o maior produto do seu portfólio, o gigante A380.
No intuito de acompanhar a demanda e dinamizar a produção, a empresa anunciou a expansão de sua capacidade de produção de aeronaves de corredor único, que são amplamente utilizados em rotas na região. A empresa poderá fabricar nada menos do que 42 aviões da família A-320 (que inclui o A-319 e A-321) por mês a partir de 2012.
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